Foto: Felipe Santos/cearasc.com

Estamos em meio à mais uma comemoração do Dia Internacional da Mulher. Data reservada para que possamos discutir e enaltecer sobre os direitos, as lutas e as conquistas femininas em nossa sociedade. 

No Brasil, a cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicídio. Em um país em que a população tem predominância feminina, somente em 2022, 1,4 mil mulheres foram mortas.Os dados são do Monitor da Violência, órgão fruto de parceria entre o G1, o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Para além da violência, somos obrigados a conviver com uma desigualdade das mais profundas, quando comparamos as oportunidades profissionais concedidas para homens e mulheres. Estima-se que, em média, mulheres que exercem os mesmos cargos e possuem a mesma qualificação que homens recebam 30% menos do que os colegas do sexo oposto. 

No futebol, estamos em meio a um ambiente predominantemente masculino e trabalhar diuturnamente para que as desigualdades e os preconceitos sejam minimizados é dever de todos os envolvidos nos processos do esporte. 

No Ceará Sporting Club, a representatividade feminina na gestão do futebol tem nome e sobrenome: Clara Ferreira. Supervisora de Futebol na equipe feminina do Mais Querido desde 2018, Clara é um dos pilares da modalidade em Porangabuçu e, em referência ao 08/03/2023, conversou com exclusividade com o cearasc.com. 

História
Natural de Timbaúba, mais precisamente em Paramoti, cidade situada a 100 km da capital cearense, Clara iniciou sua trajetória no futebol em sua cidade natal, ainda que com os preconceitos que todas as mulheres que começam no futebol têm de enfrentar. 

“Todos os filhos dos meus pais nasceram gostando de futebol, foi algo muito natural. Sou a mais nova de sete irmãos, todo mundo jogava, inclusive as meninas. A gente sempre queria brincar de futebol, mas tinha dificuldade por conta de preconceito mesmo. Nossa mãe não gostava, mas era reflexo da criação dela, eu entendo. Mesmo assim, minha irmã e eu conseguimos jogar e tivemos o apoio de outras pessoas próximas. Hoje, nós duas trabalhamos com o futebol”, afirmou. 

A brincadeira acabou se tornando algo um pouco mais sério quando um projeto social da região em que nasceu e começou a crescer foi desenvolvido. Na adolescência, a Capital se tornou sua casa e o futebol companheiro na nova cidade. 

“Aos 14 anos vim para a Capital. Foi aí que conheci o Menina Olímpica, um projeto local. Não consegui ser jogadora, mas consegui continuar no futebol. Em 2017, passei a exercer a função de supervisora, o que faço até hoje”, contou Clara. 

Chegada ao Ceará

Clara iniciou sua trajetória no Vozão em 2018, momento em que o clube reativou o projeto do futebol feminino. Desde a chegada, Clara exerce a função de Supervisora e é a responsável pela gestão das questões burocráticas da modalidade. 

Entre as funções, está a lida diária com o grupo de atletas. Jogadoras que enxergam em Clara mais do que uma pessoa de autoridade sobre o grupo, mas uma espécie de refúgio.

“Minha relação com as atletas é a melhor possível. Além de supervisora, percebo que elas me vêem como uma amiga, uma parceira. Sempre que pedem ajuda, a gente trabalha para estar ajudando da melhor maneira possível”, salientou. 

Ainda que com a abertura que conseguiu com o passar dos anos à frente de onde está, Clara se mostra consciente do que teve de fazer e que tem que permanecer fazendo para permanecer crescendo no esporte e na vida. 

“Eu nunca pensei que estaria aqui, nessa posição. Não imaginava ser supervisora, não imaginava que chegaria a um clube como o Ceará. Foi coisa de Deus mesmo. Ser uma mulher na gestão do futebol é algo que não dá nem para mensurar em palavras. Para alguns, é algo absurdo. Eu sei que todo mundo dá o seu 100%, mas, principalmente no futebol, a mulher dá ‘1000%’, digamos assim”, citou. 

Mudar essa realidade é algo necessário. Pessoas como Clara nos fazem enxergar que é possível, ainda que difícil. Referência para aquelas que começam suas trajetórias, a profissional se diz, de certo modo, realizada, mas ainda vislumbra sonhos à frente do caminho. 

“Eu tive que ser minha referência e acho que represento isso pra quem inicia, sim. Hoje, recebo muitos elogios das atletas que estavam comigo no processo de início de tudo. Quando falam, elas citam o lugar onde eu estou, como o máximo. Eu tento pensar que é assim, sim, mas ainda há como crescer, mas sem pisar em ninguém, o que é mais importante”, finalizou.

 Departamento de Comunicação - CSC